Poema: Livre Arbítrio.

LIVRE ARBÍTRIO. 

Havia uma escada para subir.

E assim foi feito.

Havia um quarto e uma porta para ser aberta

e uma chave para um salão escuro.

O salão da inconsciência.

A porta foi aberta por uma chave pendular.

E assim o salão foi invadido,

por pombas brancas e esquilos esguios,

e representantes do reino humano,

não menos animais.

Havia um círculo de fogo.

Três pessoas queimavam na fogueira.

Duas assistiam.

E haviam os cordões.

MALDIÇÃO. Haviam os cordões.

A mão que neles mexia.

Os bonecos a queimarem.

Os bonecos a assistirem.

Outros bonecos a seguirem seus caminhos

Há muito planejado pelas mãos

que queimaram a fogueira.

E se tudo foi destino

de uma imaginação doentia?

Mas, lá estavam os cordões.

Os bonecos que não queimaram,

morreram depois.

E os cinco voltaram.

Um boneco sentou-se.

Não conseguia mover-se

Viu os cordões

e a mão lhe falou :

“Te dei olhos,

mas não juízo.

Te fiz andar.

Te fiz chorar.

Te fiz sorrir.

Te fiz amar.

Te fiz ferir.

Te fiz até morrer

e ressuscitar.

Para meu Gladio”

O boneco, sentado ficou.

Sobre os seus ombros pesavam aqueles cordões.

Não me deste juízo? - falou.

Mas vi o teu juízo.

Vi o teu escárnio.

Me sei boneco.

Nunca me julguei Deus,

mas tenho-me em juízo de justo.

Sei do teu poder.

Sei que nada posso fazer.

A não ser rir quando mandares,

chorar quando ordenares,

ferir quando quiseres,

amar quando permitires.

E quando a morte me levar,

rirei de tudo.

Pois se de tudo fiz o que determinares,

toda tolice de minha vida,

foi um fruto que plantaste,

sem que de mim,

de fato,

nada colhestes.