Aqueles que me conhecem há muito tempo certamente não vão estranhar a escolha da Elena Dementieva para o primeiro assunto do meu blog.
Como homenagem a minha Deusa, vou republicar um texto (mix
de dois) que escrevi para o blog Saque e voleio em outubro de 2010 quando da
aposentadoria de Elena Dementieva:
Em
minha infância-juventude não tínhamos computadores pessoais. Não tínhamos
sequer aparelhos de vídeos. Para que tivéssemos nossas imaginações estimuladas
tínhamos que forçosamente (mas não para mim) recorrer aos livros, aos cinemas e
a sessão corujão da TV.
Portanto, nada espantoso que nosso ideário feminino fosse restrito
as estrelas de cinema. Na minha percepção platônica de mulher ideal estava uma
mistura da beleza clássica aristocrática da Grace Kelly com a elegância de
Audrey Hepburn e mais a capacidade intelectual de Katherine Hepburn.
Lógico que a realidade atinge os nossos devaneios com a mesma
brutalidade monstruosa de uma Tsunami. E nos acostumamos com o “menos”.
Sempre fui um fã do tênis, mas principalmente do masculino, no
feminino admirava a Navratilova e a Evert e após a aposentadoria das duas me
afastei da WTA, até que numa transmissão de Roland Garros vi em quadra uma
jovem russa de 22 anos, com uma beleza que faria a Grace Kelly morder-se de
inveja. Movia-se pela quadra com uma graça felina e uma elegância que lembrava
Audrey Hepburn. Meus Deus. Só faltava ter a capacidade intelectual da
Katherine.
Pouco tempo depois, após ser derrotada por Kuznetsova na final do
USOpen, em sua fala de vice-campeã faz aquele discurso, perfeito, citando o
massacre de 350 pessoas (185 crianças)na Rússia na escola de Beslan. Mostrava
ao mundo que para ela o mundo era muito mais do que o tênis.
Comecei a ler tudo o que aparecia sobre esta jovem russa. E assim
fiquei sabendo que era fluente em inglês e francês, e que também estudava
outras línguas e tinha interesse na cultura dos diversos países que visitava em
meio aos seus compromissos profissionais. Fiquei feliz ao ler que seu livro
preferido não era o Pequeno Príncipe mas um clássico da literatura russa. Uma
vez perguntada sobre que livro estava lendo, não respondeu um romance
infantilóide ou livros de auto-ajuda, mas sim um poeta francês, não lá muito
famoso, tanto que sequer me lembro o nome. Seu passatempo entre os jogos,
sempre que seu irmão a acompanhava aos torneios era jogar partidas de xadrez.
Percebi que o meu ideário feminino estava preenchido em uma única
mulher. Não precisava mais de uma figura mítica na junção de qualidades de
mulheres tão diferentes entre si. Estava preenchido nas qualidades de uma única
mulher, de uma menina-mulher, gentil, educada, elegante, atenciosa, prestativa,
culta e bela. Tão excessiva nestas qualidades que destoava no ambiente.
Durante toda a sua passagem pelo tênis recusou a imagem de
sex-symbol apesar de ter a beleza para ser.
Ao final das partidas tinha um sorriso tímido quando vencia e um
sorriso largo quando perdia, e para ser honesto, esta qualidade era repartida
com Vênus Williams, e em muitas vezes mas nem sempre pela Sharapova.
As lágrimas de todas as tenistas presentes a homenagem feita para
sua despedida foram mais eloquentes que palavras, mostram o quanto ela era
especial e querida pelas suas adversárias.
Repito as palavras de Kim Clijsters: “Elena trouxe elegância,
bondade, disciplina e um belo tênis ao circuito. Vou sentir falta em tê-la por
perto porque não existem muitas como ela”.
Foi realizado um vídeo homenagem a Elena pela WTA com depoimentos
de várias tenistas. Algo que se nota nos depoimentos é que Elena não era amiga
da maioria delas, manteve uma certa distância, mas que pelo exemplo que era seu
comportamento dentro e fora de quadra certamente tocou o coração das tenistas.
Isso me impressiona mais ainda, pois não foram as amigas que
fizeram os depoimentos, mas suas adversárias.
Como disse acima, o choro de todas as adversárias na despedida em
quadra dizia mais do que as palavras. Como exemplo, na aposentadoria da campeã
Amelie Mauresmo, não teve o chororô das adversárias, e na despedida da francesa
o discurso mais emocionante foi o da Dementieva.
Na minha opinião, a mais reveladora declaração do significado de
Dementieva no circuito foi a de sua arquirrival, a Serena Williams, que
raramente (eu nunca tinha visto, à exceção de elogios a sua irmã) fala bem de
suas adversárias.
Serena postou em seu site oficial: “Elena you will be missed. The matches we competed in were always so
intense. You helped make me better both on and off the court…All the best to
you Love, and to all your endeavors.” Traduzo livremente para: “Elena
você fará falta. Todas as partidas que disputamos foram intensas. Você ajudou a
tornar-me melhor dentro e fora das quadras … Tudo de bom para você amor, e a
todos os seus empreendimentos.”
De lamentável, apenas o fato de Elena Dementieva ser tão especial
despertar em algumas mulheres uma inveja nada saudável.
Elena é a encarnação da figura mitológica de Helena de Tróia.
Helena de Tróia foi uma mortal cuja beleza despertava a ira de
Deusas do Olimpo invejosas. Já a Elena, é uma Deusa cuja beleza e caráter
despertam a ira de algumas mortais invejosas. Poucas, como pôde ser percebido
pela comoção que sua aposentadoria causou.
Elena trouxe a mim a consciência de que não preciso me contentar
com o “menos”, ou criar figuras míticas para preencher ideários.
O perfeito não existe, a Elena não tinha uma mentalidade de campeã
esportiva apesar de ter o talento de uma. Ao atingir o Top20 pela primeira vez,
permaneceu 525 de 529 semanas pertencendo a esta elite. Junte-se a isto ter
participado de 10 campeonatos da WTA em 11 anos, feitos que muito poucas
tenistas conseguiram ou conseguirão em suas carreiras. Mas não atingiu o topo
que seu talento permitia.
Sobre a perfeição, Elena disse: “Você não tem que ser perfeito,
mas você deve tentar duramente, e eu tentei, sempre”.
Possivelmente ela não sabe, mas ninguém esteve mais próxima da
perfeição que ela.
Não venceu um Grand Slam? Como disse no Twitter o amigo Michel
Dazmarelli, pena para o Grand Slam. Conquistou duas medalhas olímpicas para seu
país, uma de ouro e uma de prata. Muitos milhões de russos não sabem o que é um
Grand Slam, mas todos sabem o que é uma medalha olímpica e o que ela significa
para o esporte.
Aposentou-se sem conquistar um torneio de Grand Slam, mas
conquistou a minha admiração de uma forma que nenhum outro/a atleta conseguiu
ou conseguirá.
Aposentou-se Campeã Olímpica.
Aposentou-se Minha Campeã.
Saudade
imensurável.
\o/ \o/ \o/
Elena Dementieva foi a rainha do fair-play da WTA nos últimos anos.
ResponderExcluirNesse mundinho de vaidades e rivalidades da WTA, ela era, quase com certeza, a única bem quista por todas.
Como você mesmo descreveu, sabia perder e sabia vencer, coisa rara hoje em dia.
Parabéns pra sua Deusa, Titus!
Grande abraço,
George. \o/ \o/ \o/
George,
ExcluirÉ para mim uma grande honra que o primeiro comentário neste blog criado hoje tenha sido postado por você, simplesmente o "Guru" da WTA.
Elena Dementieva sempre foi a minha tenista preferida, tenho muitas saudades dela e espero que ela volte ao circuito. Belíssimo texto. Me levou as lágrimas. Adoro tênis, bem que você poderia escrever mais sobre este esporte.
ResponderExcluirBeijos e abraços,
Fabiana.