Ele estava
sentado na lateral da cama de casal do quarto de hotel. Colocou as grandes mãos
no rosto e soltou um suspiro. Estava vivendo em ritmo acelerado, os compromissos
profissionais apareciam um atrás do outro. Consequência da boa imagem que
passou no Reality que participou. No dia seguinte tinha um compromisso que
talvez não fosse o mais importante, mas com certeza o mais ansiosamente
esperado.
Havia uma grande
expectativa dele mesmo com o encontro do dia seguinte e ele também estava
consciente de que aquele encontro contava com a expectativa de milhares de fãs,
que afinal de contas, foram eles que conseguiram aquele trabalho específico,
aonde estariam como um casal para fotos de noivos.
Ao ouvir o
telefone do quarto tocar sentiu o coração disparar e percebeu as mãos tremendo.
Diversos pensamentos passaram na cabeça, cancelamento do compromisso do dia
seguinte, ligação de sua mãe, ou dela, ou de sua assessora, ou de um diretor da
agência. Saltou da cama em um pulo para atender logo a ligação.
- Alô – disse ele.
- Big Johnny – falou
em tom alto, um dos amigos que fizera no Reality, o amigo que ganhara o prêmio
principal.
- E aí Abel? Como
vai a vida de milionário? Muita gatinha em cima? – disse Johnny.
Uma risada do
outro lado da linha.
- E como vai a
vida do mais famoso modelo do momento?
- Que famoso
nada.
- Estão pagando
bem os trabalhos?
- Não vou
reclamar senão Deus castiga, mas bah, podia ser melhor não é?
- Trabalhando
muito?
- Tenho que
aproveitar a onda, você como surfista – riu enquanto dizia – sabe bem que não
dá para pegar toda onda, então temos que aproveitar.
- Aproveite
muito, mas pode ficar sabendo que muitas outras ondas virão, amigo. E amanhã,
vai encontrar com a Princesa?
- Pois é, estou
tão confuso cowboy.
- Confuso por quê?
- Você sabe o que
sinto por ela, mas ao mesmo tempo, muita gente vai pensar que estamos juntos
apenas para ganhar dinheiro como casal.
- Johnny, em vez
de se preocupar com o que pensam de você, se preocupe com o que você pensa de
si mesmo. Afinal o que está em jogo agora é a sua felicidade.
- Mas você sabe
como a imagem no meu trabalho é muito importante.
- Essa imagem
está sendo formada pelo seu trabalho. O seu profissionalismo é o que vai
importar, isso é o que vão falar para os outros contratantes, não com quem você
está.
- Verdade – disse
Johnny enquanto assentia com a cabeça em um gesto característico apesar de não
ter ninguém para ver. – Mas eu não sei até quando eu vou ser interessante,
entendeu? Não sei quanto tempo esta onda vai durar.
- Rapaz. Adianta
se preocupar agora? Você sempre disse que iria trabalhar muito enquanto pudesse
e tentaria economizar para fazer um pé de meia. Faça isso, trabalhe muito e bem
e faça esta onda durar, das outras ondas trate depois, quando tiver que tratar.
- Obrigado amigo.
– disse Johnny.
- Não tem que
agradecer nada. – falou Abel – Vá com Deus e boa sorte amanhã.
- Fica com Deus,
amigo. – despediu-se Johnny.
Desligou o
telefone, voltou para cama onde ficou sentado algum tempo, voltou a por as mãos
no rosto por alguns minutos, então se deitou na cama e dormiu rapidamente. Ele
era um desses privilegiados que consegue dormir facilmente, o milagre estava em
não acordar com o próprio ronco.
Lapso de tempo.
Quando deu por si
mesmo, Johnny estava ao lado de Zelda, sua assessora. Estavam entrando no
estúdio de fotografia aonde ele e Regina fariam as fotos para a revista que os
contratara.
- Será que ela já
chegou? – perguntou Johnny a Zelda assim que entraram no prédio do estúdio.
Não conseguiu
conter a curiosidade por mais que desejasse.
- Pode ser. Não
sei. – respondeu Zelda.
Quando entraram
no estúdio, Johnny a viu. Ela olhou para ele e sorriu. Ao ver aqueles olhos de
piscina, Johnny sentiu o corpo gelar, um calafrio percorrer a espinha e
explodir em sua nuca, a boca secou, passou a sentir o coração batendo e de
imediato sorriu de volta. Ninguém notou nenhuma das reações que Johnny teve,
ele aprendeu a disfarçar todas as suas emoções com o mesmo sorriso, aberto, uma
arma de desarme, dos sentimentos dos outros e mais importante, dos seus
próprios sentimentos.
Regina andou na
direção de Johnny que a abraçou de imediato beijando-lhe a testa. Duas fãs
aproximaram-se rapidamente com fotos dos dois pedindo para eles autografarem.
Os dois sorriram um para outro, trocaram o olhar provocativo de sempre e então
assinaram as fotos. As duas fãs pediram para eles fotografarem junto com elas e
eles atenderam. Depois pediram que eles ficassem juntos para tirarem fotos
deles juntos. Johnny se posicionou por trás de Regina. O topo da cabeça dela na
altura de seu peito. Johnny respirou profundamente e sentiu o perfume que
desejava sentir o cheiro em muitos momentos em que esteve sozinho na casa do
Reality. Voltou a sentir o frio no corpo, o calafrio na espinha e na nuca, o
coração a bater e desta vez mais acelerado. Abriu o sorriso na esperança do
efeito calmante, mas desta vez não conseguiu. As sensações permaneceram, as
mãos começaram a tremer, para disfarçar apoiou a mão esquerda na própria perna
e a direita no quadril de Regina. Sentiu a mão de Regina tocar a sua mão
direita em uma carícia gentil, despertando o que Johnny considerou uma sensação
esquisita na altura do estômago. O suor começou a aparecer na testa. Chegou a
ser um alívio quando pararam de tirar aquelas fotos ao serem chamados para o
trabalho.
Johnny sentia
aquele trabalho como o mais difícil da sua vida, ao vê-la de noiva, quanta
vontade sentia de tomá-la nos braços e entrar no quarto da lua-de-mel. Toda
aquela interpretação o torturava porque sabia no fundo que desejava que não
fosse apenas um trabalho. Como desejava que aqueles sorrisos e olhares dela não
fossem interpretação. Ele não sabia que não eram.
Não sabia ler
pensamentos – lamentou-se Johnny que ansiava saber o que Regina estava
pensando. Infelizmente, esta é uma faculdade que poucos possuem.
Ao final do
trabalho, os dois olharam um para o outro, olhares de ansiedade, expectativa.
Ambos esperando que o outro tomasse a iniciativa, o silêncio se prolongando, os
olhares perdendo a ansiedade e tornando-se humorados, quase brincando com
aquela situação que ambos sabiam era absurda e por demais infantil.
A diretora da agência
de modelos a que ambos pertenciam aproximou-se com Zelda e o irmão de Regina, contando
aos dois que estavam negociando outro trabalho para os dois juntos. Que em
breve seria divulgado caso fosse acertado. Voltaram ao silêncio constrangedor.
O irmão de Regina olhou para
ela, depois para Johnny, percebeu o silêncio cheio de troca de olhares, sorriu,
esperou algum tempo para ver se um dos dois criaria coragem para dar o primeiro
passo. Ao perceber que ninguém daria, chamou a irmã:
- Vamos? –
perguntou contendo-se para não rir daquela situação.
Regina assentiu
com a cabeça. Beijou Johnny no rosto e disse:
- Nos vemos daqui
a alguns dias então.
- Verdade. –
disse Johnny.
Johnny ficou
observando Regina sair da sala. Queria chamá-la, tomá-la nos braços e beijá-la
sem interromper. Lamentou sua própria timidez, jamais conseguia dar o primeiro
passo sem ter a absoluta certeza de que conseguiria. Geralmente os olhares e sorrisos
iguais aos de Regina dariam certeza a ele, mas não os de Regina, ela olhava e
sorria para todo mundo daquele jeito. Podia significar alguma coisa, podia
significar coisa alguma.
Naquele momento,
Johnny tinha certeza de uma coisa, não seria ele a dar o primeiro passo.
Queria tentar uma
terceira vez, poderia até dar errado, mas queria esta terceira vez e desta vez
longe das câmeras. Mas não seria ele a dar o primeiro passo.
Bah, mais uns
dias de espera. – pensou Johnny.