quarta-feira, 25 de abril de 2012

Viver um Sonho. - Parte 2



Ele estava sentado na lateral da cama de casal do quarto de hotel. Colocou as grandes mãos no rosto e soltou um suspiro. Estava vivendo em ritmo acelerado, os compromissos profissionais apareciam um atrás do outro. Consequência da boa imagem que passou no Reality que participou. No dia seguinte tinha um compromisso que talvez não fosse o mais importante, mas com certeza o mais ansiosamente esperado.

Havia uma grande expectativa dele mesmo com o encontro do dia seguinte e ele também estava consciente  de que aquele encontro contava com a expectativa de milhares de fãs, que afinal de contas, foram eles que conseguiram aquele trabalho específico, aonde estariam como um casal para fotos de noivos.

Ao ouvir o telefone do quarto tocar sentiu o coração disparar e percebeu as mãos tremendo. Diversos pensamentos passaram na cabeça, cancelamento do compromisso do dia seguinte, ligação de sua mãe, ou dela, ou de sua assessora, ou de um diretor da agência. Saltou da cama em um pulo para atender logo a ligação.

- Alô – disse ele.

- Big Johnny – falou em tom alto, um dos amigos que fizera no Reality, o amigo que ganhara o prêmio principal.

- E aí Abel? Como vai a vida de milionário? Muita gatinha em cima? – disse Johnny.

Uma risada do outro lado da linha.

- E como vai a vida do mais famoso modelo do momento?

- Que famoso nada.

- Estão pagando bem os trabalhos?

- Não vou reclamar senão Deus castiga, mas bah, podia ser melhor não é?

- Trabalhando muito?

- Tenho que aproveitar a onda, você como surfista – riu enquanto dizia – sabe bem que não dá para pegar toda onda, então temos que aproveitar.

- Aproveite muito, mas pode ficar sabendo que muitas outras ondas virão, amigo. E amanhã, vai encontrar com a Princesa?

- Pois é, estou tão confuso cowboy.

- Confuso por quê?

- Você sabe o que sinto por ela, mas ao mesmo tempo, muita gente vai pensar que estamos juntos apenas para ganhar dinheiro como casal.

- Johnny, em vez de se preocupar com o que pensam de você, se preocupe com o que você pensa de si mesmo. Afinal o que está em jogo agora é a sua felicidade.

- Mas você sabe como a imagem no meu trabalho é muito importante.

- Essa imagem está sendo formada pelo seu trabalho. O seu profissionalismo é o que vai importar, isso é o que vão falar para os outros contratantes, não com quem você está.

- Verdade – disse Johnny enquanto assentia com a cabeça em um gesto característico apesar de não ter ninguém para ver. – Mas eu não sei até quando eu vou ser interessante, entendeu? Não sei quanto tempo esta onda vai durar.

- Rapaz. Adianta se preocupar agora? Você sempre disse que iria trabalhar muito enquanto pudesse e tentaria economizar para fazer um pé de meia. Faça isso, trabalhe muito e bem e faça esta onda durar, das outras ondas trate depois, quando tiver que tratar.

- Obrigado amigo. – disse Johnny.

- Não tem que agradecer nada. – falou Abel – Vá com Deus e boa sorte amanhã.

- Fica com Deus, amigo. – despediu-se Johnny.

Desligou o telefone, voltou para cama onde ficou sentado algum tempo, voltou a por as mãos no rosto por alguns minutos, então se deitou na cama e dormiu rapidamente. Ele era um desses privilegiados que consegue dormir facilmente, o milagre estava em não acordar com o próprio ronco.

Lapso de tempo.

Quando deu por si mesmo, Johnny estava ao lado de Zelda, sua assessora. Estavam entrando no estúdio de fotografia aonde ele e Regina fariam as fotos para a revista que os contratara.

- Será que ela já chegou? – perguntou Johnny a Zelda assim que entraram no prédio do estúdio.

Não conseguiu conter a curiosidade por mais que desejasse.

- Pode ser. Não sei. – respondeu Zelda.

Quando entraram no estúdio, Johnny a viu. Ela olhou para ele e sorriu. Ao ver aqueles olhos de piscina, Johnny sentiu o corpo gelar, um calafrio percorrer a espinha e explodir em sua nuca, a boca secou, passou a sentir o coração batendo e de imediato sorriu de volta. Ninguém notou nenhuma das reações que Johnny teve, ele aprendeu a disfarçar todas as suas emoções com o mesmo sorriso, aberto, uma arma de desarme, dos sentimentos dos outros e mais importante, dos seus próprios sentimentos.

Regina andou na direção de Johnny que a abraçou de imediato beijando-lhe a testa. Duas fãs aproximaram-se rapidamente com fotos dos dois pedindo para eles autografarem. Os dois sorriram um para outro, trocaram o olhar provocativo de sempre e então assinaram as fotos. As duas fãs pediram para eles fotografarem junto com elas e eles atenderam. Depois pediram que eles ficassem juntos para tirarem fotos deles juntos. Johnny se posicionou por trás de Regina. O topo da cabeça dela na altura de seu peito. Johnny respirou profundamente e sentiu o perfume que desejava sentir o cheiro em muitos momentos em que esteve sozinho na casa do Reality. Voltou a sentir o frio no corpo, o calafrio na espinha e na nuca, o coração a bater e desta vez mais acelerado. Abriu o sorriso na esperança do efeito calmante, mas desta vez não conseguiu. As sensações permaneceram, as mãos começaram a tremer, para disfarçar apoiou a mão esquerda na própria perna e a direita no quadril de Regina. Sentiu a mão de Regina tocar a sua mão direita em uma carícia gentil, despertando o que Johnny considerou uma sensação esquisita na altura do estômago. O suor começou a aparecer na testa. Chegou a ser um alívio quando pararam de tirar aquelas fotos ao serem chamados para o trabalho.

Johnny sentia aquele trabalho como o mais difícil da sua vida, ao vê-la de noiva, quanta vontade sentia de tomá-la nos braços e entrar no quarto da lua-de-mel. Toda aquela interpretação o torturava porque sabia no fundo que desejava que não fosse apenas um trabalho. Como desejava que aqueles sorrisos e olhares dela não fossem interpretação. Ele não sabia que não eram.

Não sabia ler pensamentos – lamentou-se Johnny que ansiava saber o que Regina estava pensando. Infelizmente, esta é uma faculdade que poucos possuem.

Ao final do trabalho, os dois olharam um para o outro, olhares de ansiedade, expectativa. Ambos esperando que o outro tomasse a iniciativa, o silêncio se prolongando, os olhares perdendo a ansiedade e tornando-se humorados, quase brincando com aquela situação que ambos sabiam era absurda e por demais infantil.

A diretora da agência de modelos a que ambos pertenciam aproximou-se com Zelda e o irmão de Regina, contando aos dois que estavam negociando outro trabalho para os dois juntos. Que em breve seria divulgado caso fosse acertado. Voltaram ao silêncio constrangedor. O irmão de Regina olhou para ela, depois para Johnny, percebeu o silêncio cheio de troca de olhares, sorriu, esperou algum tempo para ver se um dos dois criaria coragem para dar o primeiro passo. Ao perceber que ninguém daria, chamou a irmã:

- Vamos? – perguntou contendo-se para não rir daquela situação.

Regina assentiu com a cabeça. Beijou Johnny no rosto e disse:

- Nos vemos daqui a alguns dias então.

- Verdade. – disse Johnny.

Johnny ficou observando Regina sair da sala. Queria chamá-la, tomá-la nos braços e beijá-la sem interromper. Lamentou sua própria timidez, jamais conseguia dar o primeiro passo sem ter a absoluta certeza de que conseguiria. Geralmente os olhares e sorrisos iguais aos de Regina dariam certeza a ele, mas não os de Regina, ela olhava e sorria para todo mundo daquele jeito. Podia significar alguma coisa, podia significar coisa alguma.

Naquele momento, Johnny tinha certeza de uma coisa, não seria ele a dar o primeiro passo.

Queria tentar uma terceira vez, poderia até dar errado, mas queria esta terceira vez e desta vez longe das câmeras. Mas não seria ele a dar o primeiro passo.

Bah, mais uns dias de espera. – pensou Johnny.

5 comentários:

  1. Muito bom esperando o Viver um Sonho. - Parte 3 :)

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  2. CARAMBA MATOU EUZINHA AGORA HEIMMM QUE PERFEITO ATE PARECE VDD TD ISSO PARABÉNS

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  3. Eu estou começando a entender a minha filha com o seu conto. Quando ela era pequena, eu costumava ler estórias antes dela dormir. No início acabava lendo um livro por dia, depois passei a ler um capítulo por dia. Ela ficava ansiosa, queria que chegasse logo a noite para que eu contasse mais um pouco. Pois então, é assim que eu estou me sentindo, com um gosto de quero mais.
    Está delicioso ler.

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  4. To amandoooo d++!!!!
    To louca pelo prox encontro deles.
    Nao demore pra postar a parte 3. super ansiosa pra ler.

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  5. Amei o conto, tanto quanto o primeiro!!
    E é impressionante como conseguia visualizar as cenas, os olhares, os sorrisos... muito bom!!

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