sábado, 28 de abril de 2012

A Garota de Itaparica.





Muitos anos atrás na Ilha de Itaparica, quando ainda estudante de Medicina, sentou-se ao meu lado na praia de Barra Grande uma garota muito bonita. Me lembro de ter pensado isto, mas não consigo lembrar-me de seu rosto. Lembro-me apenas dos olhos, de cor igual ao céu de Itaparica, o que basicamente foi o fato que determinou que eu não conseguisse desviar dela a minha atenção; e dos cabelos castanhos claros cuja tonalidade passou a ser a minha favorita.

Hoje, flutuo entre a timidez e a extroversão, para algumas coisas sou tímido, para outras bastante extrovertido, mas já houve tempo em que a timidez era predominante. Principalmente no fim da adolescência e início da fase adulta. (Meus parentes e amigos sempre dizem que eu já era adulto aos 13 anos, mas prefiro pensar que não). Mesmo nesta fase de timidez acentuada, algumas vezes, para meu próprio espanto, munia-me de extroversão e humor e conseguia ultrapassar as barreiras impostas pela timidez.  

Passamos conversando por cerca de três horas, entre duas e cinco da tarde. Lembro-me de praticamente toda a conversa. E lembro-me de seus olhos e da cor de seu cabelo. Não me lembro do nome, nem poderia já que não perguntei.

Desta garota tive apenas uma conversa que considero interessante, pode até não ter sido. Mas toda a vez que o céu de Salvador fica mais escuro, ou vejo, em qualquer canto do mundo, um céu com a tonalidade de Itaparica penso nela e uma sensação de enorme carinho me invade.

Existem mulheres com quem tive intimidade, em relações que duraram dias ou semanas, que se passarem diante de mim não as reconhecerei. Em contraste, tenho certeza de que no dia em que voltar a ver os olhos na senhora que esta garota se transformou, mesmo que ela esteja completamente diferente, de cabelos pintados, mesmo que tenha engordado, com o rosto enrugado, me lembrarei de imediato dela e por observação, mesmo que ela tenha mudado bastante o rosto com a idade, lembrarei do rosto dela, o que tento agora e não consigo.

Por que estou escrevendo isto? Porque neste momento o céu de onde estou assumiu um tom mais escuro e uma enorme onda de carinho me envolveu e como sempre me lembrei dela, não de seu rosto, mas de seus olhos, de seus cabelos castanhos claros e da conversa que tivemos.

Um comentário:

  1. Tito na nossa trajetória da vida muitas coisas acontece as vezes por longa datas ou por pouco tempos que nos marca pra sempre e não damos valor!! A gente aprende a dar valor na vida, quando as pequenas coisas que acontecem tornam-se lembranças boas para marcar não apenas um dia, mas para sempre.bjus.

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