terça-feira, 1 de abril de 2014

Para não dizer que não falei das flores.

                                                         Vladimir Herzog (1937-1975)

Nos anos de chumbo a palavra foi cassada, censurada, torturada e morta, assim como aqueles que as pronunciavam contra aquela infame ditadura militar.

Este metal pesado, no entanto, foi ludibriado, assim como os membros da censura, energúmenos como os apoiadores do regime militar, por alguns compositores que transformaram suas músicas em hinos que os verdadeiros patriotas cantavam enquanto o nosso hino oficial foi surrupiado pelos idealizadores do “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Neste fétido aniversário de 50 anos, alguns dias atrás uma marcha da família relembrou a anterior, feita por cúmplices de torturas e assassinatos que se seguiram a ela, a marcha funesta, movimento inspirado e nascido na CIA americana, idealizadora do golpe militar. Desta vez nascida do descontentamento com o governo de esquerda do PT, que perdeu a oportunidade histórica de mostrar como se faz a verdadeira democracia e se rendeu as práticas corruptas usuais da política brasileira. E isto por um desejo de “cubanização” do país, esquecendo que não é o lado, direito ou esquerdo, que faz a diferença, mas a prática, certa ou errada, ética ou não.

Acho inadmissível que se pense no retorno da ditadura militar torturadora e assassina, como também a instauração da falsa democracia do modelo cubano, claramente uma ditadura travestida de intenções sociais quando a verdadeira intenção é a perpetuação do poder.

Contra as ditaduras, quaisquer que sejam suas origens é que deixo aqui um hino da época de chumbo, hino eterno contra a supressão das liberdades civis e individuais. Isto porque a música chega até onde as palavras não conseguem.

Para não dizer que não falei das flores.
Geraldo Vandré.

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
...
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
...
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Um comentário:

  1. Boa noite! Li o texto, gostei muito e me soou familiar. Não posso dizer que lembro deste tempo, pois nasci em 1962. Entretanto, já era memina entendida, um primo de meu pai preso na guerrilha do Araguaia. Lembro de estar correndo pela casa, era sábado ou domingo, lembro que a mãe dele, viúva, mas dona de um acervo considerável de jóias e neste dia era dia de visita no presídio, era um tal de falar baixo e trancar a porta do quarto, eles eram 5 irmãos e meu pai, afilhado da mãe deles, foi também criado do por ela, então eu tinha acesso "livre" aos quartos da casa enorme, vou lá até hoje, embora ela esteja bastante reformada, lembro exatamente do momento em que a mãe, a filha mais velha, dentista, hoje com 70 anos, elas levantaram os tacos que eram o piso da sala e dos quartos, elas tiraram daquele chão uma quantia em dinheiro e algumas daquelas jóias de família. Feito isso, todos bem nervosos, a irmã saiu junto com alguém que não me recordo, mas que poderia ser o advogado enquanto a mãe, minha última recordação deste momento triste,chorora copiosamente pedindo a Deus que entregassem o filho dela vivo. Ele foi solto, se formou em economia e foi trabalhar em Macapá, Cidade natal de toda a família de meu pai, lá ele chegou a Diretoria Administrativa e Financeira do Basa em Macapá, mas foi injustamente acusado de irregularidades e afastado do cargo, lutou muito pra provar sua inocência, esta acusação ocorreu durante o primeiro mandato do Governo de Capeberibe, amigo dele de luta na época da ditadura e conseguiu provar sua inocência. Mas seis ou oito meses após ter conseguido, inclusive, por nada ter sido provado contra ele, recebeu da justiça o direito de retornar a função de economista, seu cargo inicial no Banco, ele veio a falecer, de infarte, não digo que foi fulminante, ele viveu por 20 dias sem ter condições de fazer a cirurgia coronariana pois como nunca se cuidou, o quadro era de extrema gravidade, ele faleceu aos 52 anos, deixou uma filha adotiva que pegou em uma creche onde a ex mulher é/ era Assistente Social, eles não a dotaram bebê mas ele em especial tinha um enorme carinho por esta filha. O interessante desta história é que a família dele nem a de sangue, nem a mulher que também foi militante, nunca quiseram entrar na justiça contra o Estado, eles acham que ele foi de livre expontânea vontade, lutar pelo que acreditava e se houve alguma traição ou engano, foi dele mesmo que acreditou nos amigos errados, eles contam que na hora de ir pro fronte de batalha, só ele e mais um se apresentaram, os demais fugiram e se refugiaram em lugares nunca descobertos, este amigo, é o Nolasco, um médico que mora em Macapá, ainda vivo e lúcido.

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