domingo, 30 de junho de 2013

Um peso, duas medidas, três circunstâncias.


A revelação do escândalo de espionagem dos americanos a indivíduos no mundo inteiro com a colaboração de grandes empresas da internet me fez pensar que os EUA não são tão diferentes assim do Brasil.

A grande diferença que pesa muito a favor dos americanos é do sistema eleitoral para seus deputados, por ser voto distrital permite o controle dos deputados pelos votantes dos distritos. Quanto as eleições presidenciais o sistema brasileiro é melhor, porque o presidente é de todos e não dos grandes distritos, mas como é opção dos americanos, quem sou eu para opinar?

Acho que para o Brasil a melhor opção seria o sistema distrital para o legislativo e votação direta para o executivo.

Voltando ao assunto das semelhanças entre Brasil e EUA, o que este escândalo revelou? Que tanto aqui como lá o mesmo peso pode ter medidas diferentes.

Como assim? Quatro escândalos, dois parecidos em cada país tiveram consequências diversas, sendo que nos EUA, pelo menos havia uma circunstância diferente, o que não houve no Brasil.

Antes de explicar, é bom explicitar que me emocionei ao ponto do nó na garganta com as primeiras eleições de Lula e Obama por achar que eles mudariam o Brasil e o mundo, respectivamente, para melhor. A diferença é que na reeleição ainda acreditei no Obama, no Lula já não acreditava.

Quais os quatro escândalos? No Brasil, tanto Collor quanto Lula tiveram caixa dois nos seus partidos, sendo que Collor sofreu processo de impeachment enquanto Lula não. Nos atos não houve diferença de circunstâncias, apenas no tratamento que cada presidente deu a Câmara de deputados, enquanto Collor ignorou os deputados, o PT ofereceu-lhes o mensalão. Portanto no caso do Brasil houve o mesmo peso, caixa dois, duas medidas, uma julgou como crime (Collor) e, portanto, motivo de impeachment, a outra medida julgou, como disse Lula, como um padrão político já estabelecido, portanto nada foi feito. As circunstâncias, arrecadar dinheiro para proveito ilícito, também foi a mesma. Por isso, um peso, duas medidas, uma circunstância.

Nos EUA, no peso, tanto Nixon quanto Obama deram ordens para espionagem, Nixon, espionagem do partido democrático, Obama, espionagem de todo mundo, incluindo a nós, cidadãos comuns que não representamos risco algum para a democracia americana, no entanto por digitarmos ou falarmos palavras chaves ao telefone passamos a ser monitorados pelas sopas de letras (FBI, CIA, e o caralho a quatro) americanas. A espionagem de Nixon, mais simples e restrita foi considerada digna de um processo de impeachment, a espionagem de Obama, mais complexa e disseminada ao mundo inteiro, até o momento não foi julgada merecedora de um processo semelhante. Porém, nos EUA existe uma circunstância diferente, os EUA da década de 70 não estavam tão visados pelo terrorismo como estão hoje. Isto justifica o fato de nós, não terroristas ou afiliados a qualquer grupo sejamos vigiados? Não, não justifica, porém “explica” a razão de ter acontecido. A circunstância (intenção) da espionagem de Nixon foi obtenção de vantagem eleitoral, a de Obama foi preservar a segurança dos EUA. Se nos EUA teve circunstâncias diferentes, por outro lado a gravidade da consequência também. A liberdade individual foi ferida mortalmente pelo Obama, e somente por isso já deveria estar sofrendo um processo de impeachment. Pessoas que colocaram fotos sensuais ou explícitas em e-mails devem estar divertindo algum burocrata americano no momento. Conversas de cunho muito pessoal estão à disposição destes burocratas que podem fazer com elas o que bem entendem.


A grande ironia neste momento é que o rapaz que “dedurou” o governo americano agora é tratado como traidor em vez de ser tratado como um herói dos direitos civis e o presidente americano está imune do crime de ter mandado espionar milhares de pessoas, sem qualquer ligação com terrorismo ou crimes que justificassem a quebra de sigilo telefônico ou do e-mail. Ou seja, os EUA não é tão diferente assim do Brasil.

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