Quando
falo de meus ídolos no esporte, não é apenas o talento para o esporte que eu valorizo,
igual ou mais importância tem o caráter, a ética esportiva do atleta. E assim,
minha galeria de ídolos esportivos não é exclusiva de atletas com multi-campeonatos.
Muitas
vezes chego a achar que sou um pé-frio para meus ídolos, porque muitos deles
passam longe dos títulos apesar do extraordinário talento. Assim, Zico e Falcão
não foram campeões mundiais com a seleção, nem o talentoso técnico Telê
Santana. Meu maior ídolo no tênis, no caso “ídola” Elena Dementieva perdeu as
duas finais de Grand Slam que disputou quando era a favorita. E assim, fui, como torcedor, sendo vítima da
injustiça dos Deuses esportivos em não premiar aqueles a quem torcia que tinham
não apenas o talento, mas um comportamento ético como atletas. No caso da
Elena, foi compensada com o título de campeã Olímpica, que é de muita importância
para os russos, mas não para a comunidade tenística, AINDA.
Achei
que Tony Kanaan seria mais um destes ídolos, que apesar de ter sido campeão
pela CART, não tinha vencido a prova das 500 milhas de Indianápolis, a prova
mais importante do automobilismo americano, apesar de “ter batido na trave”
várias vezes, ter chegado a liderar em oito provas das onze que tinha disputado
ao ponto de ser considerado pelos comentaristas especializados e torcedores
americanos o piloto não vencedor que mais tinha merecimento em vencer. Esse
reconhecimento chegou ao ponto de transformá-lo em favorito sentimental dos
americanos para as 500 milhas de Indianápolis.
Muito
foi comentado pela mídia sobre dois amuletos que Tony teve no dia da prova. Não
acho que sorte tem nada a ver com esta vitória, mas a história mostra como o
Tony Kanaan é um ser humano extraordinário. Em 2004, Tony Kanaan foi visitar uma
fã em hospital americano e entregou para a mãe da garota de 15 anos que iria
sofrer uma cirurgia cerebral de alto risco, uma medalha que Tony ganhara de sua
mãe, não para que ele tivesse sorte, mas para ter proteção, o que mais importa
para as mães. Depois de nove anos, dias antes da prova Tony recebeu a visita da
menina, agora uma moça de 24 anos, que lhe entregara um envelope em que
retornava a medalha dizendo mais ou menos assim: “Esta medalha me trouxe sorte,
saúde, um casamento feliz, estou realizada na vida, agora é hora de você voltar
a usá-la e ganhar esta corrida”. Tony ganhou.
O
outro amuleto foi a medalha de ouro de outro ídolo que tenho, Alex Zanardi, que
perdeu as duas pernas em acidente na Indy e depois tornou-se atleta
paraolímpico e venceu duas medalhas de ouro. Zanardi levou a medalha para Jimmy
Vasser (chefe da equipe do Tony e parceiro da Ganassi nos tempos de corredor de
Zanardi) para dar sorte ao Tony.
Não
acredito que objetos tragam sorte especificamente, o que eu achei dos dois
epsódios é que eles geraram uma energia positiva para o Tony, assim como a
torcida americana vibrando a cada ultrapassagem de Tony sobre qualquer piloto,
americano ou não.
Tony
não era favorito sentimental apenas do público de Indianápolis, mas dos próprios
concorrentes no caso de não serem eles os vencedores. Quatro dias antes da
prova perguntaram a Grahan Rahal, um piloto americano, a importância de um
americano vencer , ele respondeu: “Não significa mais para o esporte que uma
vitória de um cara como o Tony Kanaan”.
Tony
Kanaan era também o favorito dos comentaristas americanos da rede ESPN-ABC
americana. Os comentaristas mostravam o entusiasmo com qual o público americano
respondia as ultrapassagens de Tony Kanaan e falavam dele, das onze tentativas,
das muitas vezes que liderou e não venceu. Na parte final da prova, quando
Kanaan ainda estava em segundo, mostraram uma entrevista do brasileiro.
Esta
“torcida” dos comentaristas americanos demonstra que o amor dos americanos pelo
automobilismo pode ser maior que uma questão de “pachequismo barato”. Ninguém é
John Smith from America.
Não
somente na transmissão da ESPN-ABC Tony era o favorito, em todas as coberturas
da mídia americana estava claro que o vencedor Tony Kanaan era o favorito
sentimental dos americanos, o piloto mais querido entre todos, entre os
torcedores e entre os profissionais da competição.
Neste
caso pode-se dizer que ENFIM, os Deuses do automobilismo fizeram Justiça ao
colocarem o feio nariz (segundo o próprio Tony) deste extraordinário ser humano
no troféu mais cobiçado do automobilismo.
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