O
Thiago Pereira, medalha de prata, fez três declarações fortes, todas honestas,
esclarecedoras e mais do que tudo, oportunas. Já tinha passado do tempo de
alguém ter a coragem de apontar razões para o fracasso olímpico, neste caso,
especificamente da natação feminina.
A
primeira das declarações, comparando atletas femininas da natação americanas
com as brasileiras: “Falta mais comprometimento,
acreditar um pouco mais e abrir mão de muita coisa. É até engraçado. Nos
Estados Unidos, as meninas ficam como a gente, não raspam nada e só raspam para
melhorar na hora da prova. Elas colocam a competição acima da vaidade. Aqui,
elas nadam, nadam...”.
Esta crítica fere, pelo que está dito e pelo que não está. A
não raspagem em treinamento funciona, guardadas as devidas proporções, como a mochila de pedra nas costas que o
maior atleta olímpico de todos os tempos, Paavo Nurmi, usava na preparação para
suas provas. Mas a declaração sobre a vaidade leva-nos a pensar se a preparação
física das “meninas” estaria sendo adequada, ou haveria medo de se sentirem masculinizadas
por conta de uma musculatura “excessiva”. É um ponto a esclarecer.
A segunda das declarações, seguindo a comparação com o EUA
(ou USA dos americanófilos): “Os americanos treinam para ganhar as Olimpíadas,
a gente pensa em ir. A distância é grande”.
Não sei se os Comitês Olímpicos Nacionais tem autonomia para
exigir tempos e índices melhores que os determinados pelas federações
internacionais, se tiver, que o faça. Isto obrigaria aos atletas brasileiros a treinarem
para estarem nas finais e a vencerem, não em apenas ir para a grande festa da
vila olímpica.
A terceira declaração aponta um assunto que há muito tempo no
Twitter venho insistindo como a razão principal para o fracasso do Brasil como nação
esportiva. Thiago disse o seguinte: “Nos Estados Unidos, melhor natação do
mundo, os atletas têm a oportunidade de cursar uma universidade, onde não
teriam condições financeiras, mas pelo esporte ganham uma bolsa e dali sai uma
medalha. No Brasil, muita gente para de treinar por falta de oportunidade. Tem
de conciliar com estudo”.
Há muito venho dizendo no Twitter que o esporte brasileiro
jamais será alguma coisa até que tenhamos competições universitárias como nos
EUA. E que a interação Educação-Esporte tem que ser implantada no Brasil, na
forma de bolsas de estudo para atletas. Já que há descontos de impostos para as
instituições de ensino superior privadas, que estes descontos só sejam concedidos
com a implementação de bolsas-esporte por estas Universidades, o que seria controlado
por um comitê educativo composto de atletas e ex-atletas para confirmar a
adequação destas universidades. Os proprietários das Universidades privadas,
muitas delas, pensam apenas no desconto dos impostos, transformam estas faculdades
em fábricas de diplomas e não dão retorno algum a “sociedade” que os poupam destes
impostos. Está na hora de reverter isto.
Para concluir, na minha opinião, obviamente sem o peso da
opinião do Thiago Rodrigues, para o fracasso olímpico são motivos bem mais
importante que a vaidade das meninas: A ausência de mentalidade vencedora em
muitos de nossos atletas, com raríssimas exceções tais quais Sarah, Cielo e
Zaneti e outros não medalhados que vão para vencer mas não conseguem; a corrupção de nossos dirigentes esportivos e
o mais importante, a passividade do povo brasileiro em não cobrar dos nossos
governantes e do judiciário a punição aos corruptos e uma melhor gestão
administrativa de nossos governos nas áreas educativas, da saúde, da segurança
pública e por fim, na área esportiva.
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