terça-feira, 28 de maio de 2013

E os Deuses do Esporte fizeram Justiça ao Tony Kanaan.


Quando falo de meus ídolos no esporte, não é apenas o talento para o esporte que eu valorizo, igual ou mais importância tem o caráter, a ética esportiva do atleta. E assim, minha galeria de ídolos esportivos não é exclusiva de atletas com multi-campeonatos.

Muitas vezes chego a achar que sou um pé-frio para meus ídolos, porque muitos deles passam longe dos títulos apesar do extraordinário talento. Assim, Zico e Falcão não foram campeões mundiais com a seleção, nem o talentoso técnico Telê Santana. Meu maior ídolo no tênis, no caso “ídola” Elena Dementieva perdeu as duas finais de Grand Slam que disputou quando era a favorita.  E assim, fui, como torcedor, sendo vítima da injustiça dos Deuses esportivos em não premiar aqueles a quem torcia que tinham não apenas o talento, mas um comportamento ético como atletas. No caso da Elena, foi compensada com o título de campeã Olímpica, que é de muita importância para os russos, mas não para a comunidade tenística, AINDA.

Achei que Tony Kanaan seria mais um destes ídolos, que apesar de ter sido campeão pela CART, não tinha vencido a prova das 500 milhas de Indianápolis, a prova mais importante do automobilismo americano, apesar de “ter batido na trave” várias vezes, ter chegado a liderar em oito provas das onze que tinha disputado ao ponto de ser considerado pelos comentaristas especializados e torcedores americanos o piloto não vencedor que mais tinha merecimento em vencer. Esse reconhecimento chegou ao ponto de transformá-lo em favorito sentimental dos americanos para as 500 milhas de Indianápolis.

Muito foi comentado pela mídia sobre dois amuletos que Tony teve no dia da prova. Não acho que sorte tem nada a ver com esta vitória, mas a história mostra como o Tony Kanaan é um ser humano extraordinário. Em 2004, Tony Kanaan foi visitar uma fã em hospital americano e entregou para a mãe da garota de 15 anos que iria sofrer uma cirurgia cerebral de alto risco, uma medalha que Tony ganhara de sua mãe, não para que ele tivesse sorte, mas para ter proteção, o que mais importa para as mães. Depois de nove anos, dias antes da prova Tony recebeu a visita da menina, agora uma moça de 24 anos, que lhe entregara um envelope em que retornava a medalha dizendo mais ou menos assim: “Esta medalha me trouxe sorte, saúde, um casamento feliz, estou realizada na vida, agora é hora de você voltar a usá-la e ganhar esta corrida”. Tony ganhou.

O outro amuleto foi a medalha de ouro de outro ídolo que tenho, Alex Zanardi, que perdeu as duas pernas em acidente na Indy e depois tornou-se atleta paraolímpico e venceu duas medalhas de ouro. Zanardi levou a medalha para Jimmy Vasser (chefe da equipe do Tony e parceiro da Ganassi nos tempos de corredor de Zanardi) para dar sorte ao Tony.

Não acredito que objetos tragam sorte especificamente, o que eu achei dos dois epsódios é que eles geraram uma energia positiva para o Tony, assim como a torcida americana vibrando a cada ultrapassagem de Tony sobre qualquer piloto, americano ou não.

Tony não era favorito sentimental apenas do público de Indianápolis, mas dos próprios concorrentes no caso de não serem eles os vencedores. Quatro dias antes da prova perguntaram a Grahan Rahal, um piloto americano, a importância de um americano vencer , ele respondeu: “Não significa mais para o esporte que uma vitória de um cara como o Tony Kanaan”.

Tony Kanaan era também o favorito dos comentaristas americanos da rede ESPN-ABC americana. Os comentaristas mostravam o entusiasmo com qual o público americano respondia as ultrapassagens de Tony Kanaan e falavam dele, das onze tentativas, das muitas vezes que liderou e não venceu. Na parte final da prova, quando Kanaan ainda estava em segundo, mostraram uma entrevista do brasileiro.

Esta “torcida” dos comentaristas americanos demonstra que o amor dos americanos pelo automobilismo pode ser maior que uma questão de “pachequismo barato”. Ninguém é John Smith from America.

Não somente na transmissão da ESPN-ABC Tony era o favorito, em todas as coberturas da mídia americana estava claro que o vencedor Tony Kanaan era o favorito sentimental dos americanos, o piloto mais querido entre todos, entre os torcedores e entre os profissionais da competição.


Neste caso pode-se dizer que ENFIM, os Deuses do automobilismo fizeram Justiça ao colocarem o feio nariz (segundo o próprio Tony) deste extraordinário ser humano no troféu mais cobiçado do automobilismo.

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