sábado, 22 de setembro de 2012

Pão e Circo


Fosse outra época eu acharia que a Globo se uniu ao Governo numa tentativa de manter o povo gado satisfeito. Afinal, as eleições estão aí.

Os romanos já sabiam vinte e dois séculos atrás, que para manter o povo gado feliz e quieto, era suficiente oferecer pão e circo. O PT sabiamente providencia o “salário família”, que representa mais que o pão, assemelha-se às antigas dentaduras oferecidas pelos políticos em época eleitoral, com uma diferença essencial, a dentadura era roubada dos cofres públicos de forma puramente criminosa, o salário família é retirado de nossos impostos escorchantes, em um assalto legalizado.

Sou contra o salário-família, inclusive porque leio frequentemente nos jornais sobre pessoas que o recebem por laços de parentesco e amizade com políticos. Se eu soubesse que o dinheiro escorchado do meu imposto seria empregado em sua grande maioria para a educação, saúde e segurança pública, até aceitaria um corte maior com um sorriso no rosto. Mas sei que não é, nunca foi e nunca será, porque não tenho um nanômetro de esperança nos políticos. O último que me deu esperança, que me arrancou lágrimas em sua posse foi o Lula. E tivemos o sucateamento das universidades públicas, os apertos aos trabalhadores, a folga aos investidores e banqueiros e ainda por cima toda essa vergonha que hoje ocupa o canal de justiça chamada mensalão.

Vou deixar, com o perdão da má palavra, a merda do lado político por aqui e passar para o lado social, o circo providenciado pela Globo na sua novela “Avenida Brasil”.
A novela Avenida Brasil é um circo, porque o “teatro” desenvolvido dentro dele lembra mais um espetáculo circense do que uma obra de ficção.

A novela já começou “glamourizando” uma canalha, doando a esta personagem uma atriz com o talento da Adriana Esteves que fez da Carminha uma personagem que conta com a simpatia de crianças e dos adolescentes desta geração, infantilizados na falta da leitura, da verdadeira literatura.  Sabem tudo sobre a “estória” dos seus vídeos games, mas sequer imaginam quem foi o General Kutusov, por exemplo. Ou seja, pessoas sem discernimento que não conseguem enxergar o verdadeiro disparate de se ter simpatia por uma pessoa como Carminha.

O passo seguinte foi fazer a “vítima” da Carminha, Nina, enveredar pelo caminho da vingança redentora, numa espécie de catarse para uma audiência sedenta de justiça. Justificando a psicopatia da personagem pelo sofrimento vivido na infância. Implementando subconscientemente o conceito de justiça Orteguiana, o mesmo conceito que o revisor do caso mensalão tentou usar para defender um dos envolvidos neste crime, numa argumentação patética para tão alto cargo.

E vão se acumulando conceitos estrambóticos nesta novela. Cadinho, que tinha três mulheres, duas sendo enganadas, é retratado como alguém fiel. Não é por aí. Fiel, ele não foi porque enganou duas de suas mulheres. Como se trata de um assunto de relacionamento pessoal e quem coloca chifres e quem os recebe tranquilamente o fazem por opção, esta parte da novela sequer chamaria a minha atenção em torno da minha ética de relações, não fosse a semântica da palavra fidelidade.

No entanto, ao redor do personagem Cadinho, diversos conceitos ridículos e posturas criminosas colocadas sobre uma ótica da comédia, em um país de analfabetos funcionais, tornam estas posturas simpáticas e isto é uma atitude perigosa e nociva a sociedade. Muita gente achou graça do Jimmy ter passado a perna no Cadinho, que seus funcionários e clientes passassem para a empresa do trapaceiro Jimmy, empresa sabidamente construída sobre fraudes e ainda assim, Cadinho é procurado e punido pela “Justiça” enquanto o Jimmy usufrui de seus ganhos ilegais. A novela quer ser real quando coloca uma vítima se tornando uma psicopata em busca de sua vingança e então compensa com um milionário perdendo sua fortuna e achando tudo uma maravilha porque foi parar no paraíso do Divino? Só no Divino mesmo.

As três peruas esposas do Cadinho agora vão se “humanizar” no Divino. Vão acabar achando a pobreza “um luxo” e no final, nesta novela, rico, com apartamento na Vieira Souto e direito a carros importados, só o Jimmy, que obteve sua fortuna com um roubo. E uma empresária da Zona Norte, cujos rendimentos num salão de beleza, um e não uma rede, da Zona Norte, com seus preços “caríssimos”, foram suficientes para comprar um apartamento na Vieira Souto. Haja chapinha. Já o empresário honesto, que trabalhou a vida toda, 12 a 14 horas por dia (palavras do Cadinho) para manter suas três famílias, não pode permanecer rico como castigo por ter tido estas mesmas três famílias? Ou por ser a pobreza “divertida” considerada um prêmio ao “heroísmo” deste personagem em manter três peruas?

Esta novela apresenta uma estranha semelhança com o mundo “real”. A existência de personagens éticos em sua essência e comportamento, mas que em algum momento da vida escorregam e fogem dos próprios conceitos. A maioria da humanidade, a grande maioria dos personagens. No mundo real, alguns seres raros não se permitem aos escorregões por motivos diversos. Temos estes personagens na novela também. Temos o Tufão, que deu suas escorregadas, mas o fez apenas no erro de julgamento, na sua essência procurou ser justo e correto sempre, o que é uma qualidade admirável. Casou com a Golpista Carminha por se sentir culpado pela morte do marido dela, infelizmente mostra-se o tempo inteiro um bobo com a marca de Murilo Benício, especialista neste tipo de personagem, o bobo. Temos a Ivana, a típica mulher de malandro que não faz mal a ninguém a não ser a si mesma. Outra boba. Temos o Adauto, que prefere ser varredor de rua a jogador de futebol para não vivenciar situação “misteriosa” e certamente aética. Um bobo traído pela Murici e Leleco. E temos a Débora, menina honesta que fala o que pensa e age de acordo com o que julga certo. Outra boba, apaixonada por um indivíduo sem personalidade alguma, o Jorginho, outra vítima Orteguiana.

Algumas perguntas a se fazer. Serão as pessoas cuidadosas em sua ética pessoal, pessoas bobas com alta tendência a serem cornos e cornas? Esta é a “realidade” da novela Av. Brasil.

Não será esta “realidade” corrompida pela falsa visão de que o “esperto” é que é “inteligente”? Ser correto não envolve raciocínio e opção? Felizmente conheço gente inteligente que se nega a ser “esperta” e prefere ser “correta”. Não são simplórios, nem bobos, ou tampouco cornos e cornas, ao menos, pelo que eu saiba.

As dificuldades apresentadas pela vida, em vez de servirem como exemplos de condições Orteguianas amenizadoras de comportamentos esdrúxulos, não podem servir de exemplos construtivos como o da rainha da sucata? Em um país de tantas vítimas, vítimas de bandidos e do governo, vítimas de uma política de educação, saúde e segurança inadequadas, precisamos de pena pelos vitimados ou de orgulho aos heróis transformadores que fazem do limão uma limonada? Aqueles que vão atrás do prejuízo, estudam, informam-se e se esclarecem passando a exigir de seus governos medidas eficazes e de seus políticos correção na vida pública.

É óbvio que os conceitos apresentados na novela Av. Brasil pertencem ao seu autor, mas pelo visto são compartilhados por uma boa parte dos brasileiros, uma grande parte. O que me entristece, uma vez que apresenta valores inversos aos meus.

Novela tem que lidar com valores? Não, não tem. Porque valores podem funcionar como uma espécie de censura. Mas tem que lidar com a opinião pública, que para esta novela tem sido extremamente favorável. Tem também que lidar com a opinião pessoal. E é aí que eu entro. Na minha opinião pessoal, na contramão da opinião pública (nenhuma novidade nisso), esta novela é uma grande porcaria, um verdadeiro LIXÃO de ideias. 


4 comentários:

  1. Excelente! Concordo com você, a novela é um verdadeiro lixão, com pessoas que não entregam a vilã Carminha de jeito algum, apesar dos horrores praticados pela personagem em nome da "ética do lixo"...hahaha....mas, a maior de todas desta novela foram as "provas de papel fotografia" roubadas, dando fim em "todas" as provas contra os vilões Max/Carminha. Em plena era digital, a culta, viajada e descolada Nina/Rita, deu um vacilo "global". Vou escrever uma carta para o autor, ele não deve ter e-mail nem internet!A TECHTUDO.COM até mencionou tal façanha.

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  2. Titus falar sobre Político ja falei não entendo muito mas sei que cada Eleição e o mesmo bla,bla, e mentiras todo ano,nos tbm aqui em casa eramos petistas hoje não mais tínhamos muitas esperança de melhoras com o Lula e não valeu nada,hoje é difícil saber em quem é Ficha limpa como dizem.Sobre a novela não sigo! mais sou obrigada aqui em casa,porq os meus gostam, assisto as vezes a Gabriela,mas acho que as novelas da Globo são um mal exemplo de muitas coisas,como.por exemplo,Trai roubar enganar vingar e etc;príncipalmente pra muitas crianças que assistem péssimo exemplos.

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  3. Perfeito,Titus,penso igual a você. Só discordo quando cita o PT,pra mim todos os partidos são iguais,um pior que o outro e a Globo é de todos. Pão e circo e os aplausos da maioria. Será sempre assim?!Acho que sim, infelizmente. Bjo

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    1. Lúcia, Citei o PT e Lula por dois motivos, um porque o PT é quem tem o poder de mudar as coisas, e não muda. E o outro é porque eu acreditei no Lula. Eu acreditei. Fui bobo que nem o Tufão. Agora para mim, não há diferenças entre PT, PSDB e PMDB, só para ficar nos grandes. É tudo farinha do mesmo saco.

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