Uma das facetas menos interessantes da
humanidade é a sua forte tendência de repetir seus erros. Outro dia estava
lendo sobre a invasão da União Soviética por Hitler. Se Hitler tivesse ouvido os
conselhos da história (fornecidos pela invasão da Rússia por Napoleão e pelas
fracassadas tentativas de invasão da Inglaterra pela França) não teria rompido
o acordo que tinha com a União Soviética. E teria esperado alguns anos para provocar
a Inglaterra fazendo-o apenas quando tivesse capacidade naval para uma invasão,
o que não tinha em 1939. EM ambas as invasões, da Rússia por Napoleão, da União
Soviética por Hitler, dois indivíduos fizeram a diferença. O Marechal de campo,
Príncipe Mikhail Illarionovich Golenishchev-Kutuzov na invasão à
Rússia. O soldado, pastor (de ovelhas) Vassili Grigoryevich Zaitsev na
invasão à União Soviética. A diferença dos títulos entre os dois tem bastante
significado político nos seus respectivos tempos históricos.
Este preâmbulo é apenas ilustrativo, a história
que se repete e que eu desejo comentar é uma história esportiva. Já no ano
passado, por algumas atitudes da equipe Lotus, percebi a preferência da equipe
por Romain Grosjean. Neste ano ficou claro que o amor-simbiose entre Eric
Boullier e Romain Grosjean se assemelhava ao amor-simbiose entre Flávio
Briatore e Fernando Alonso. A equipe é a mesma, só mudou o nome de Renault para
Lotus. A diferença está no indivíduo, no caso Kimi Raikkonen. Duas corridas
atrás Grosjean implorou pelo rádio que a Lotus mandasse Kimi deixá-lo passar.
Não tenho a menor dúvida que se o piloto do outro carro fosse o Nelson Angelo
Piquet a ordem teria sido dada. Mas o piloto era Kimi, e Boullier ou Ross Brawn
ou Briatore nem ninguém teria peito de fazer o pedido para Kimi. A resposta
dele seria outra daquelas que ele já deu e entraram para a história da
Fórmula-1.
Boullier, também tem outra desvantagem em
relação à Briatore. Não pode dar um carro defasado a Kimi, como Briatore fez
por um ano e meio com Nelsinho, rompendo uma cláusula de desempenho do contrato,
motivo da generosa compensação financeira dada pela Renault a Nelson Angelo Piquet
pós-escândalo.
Mas nada muda o fato que a relação
Boullier-Grosjean é uma relação de amor historicamente semelhante à de
Briatore-Alonso. Como a Lotus de Kimi Raikkonen, desde o anúncio de sua ida para
a Ferrari, está muito mais instável que a Lotus de Grosjean e o francês não
virou melhor piloto que o finlandês de uma hora para outra, se eu fosse o Kimi,
ouviria a voz da história e passaria a acompanhar pessoalmente a calibragem dos
pneus, acertos de suspensão e ajustes de asas. Por quê? Porque a história se
repete outra e outra vez e uma das facetas menos interessantes da humanidade é
a sua forte tendência de repetir seus erros.