Não vi a corrida que deu a vitória de Maldonado. Onde estou não tem televisão, fiquei sabendo por
um colega que usou a internet em seu horário de descanso. E para quê assistir?
Acabou-se a competição na Fórmula 1. Alguém realmente ficou surpreso com a
vitória do Maldonado? Eu não.
Sou do tempo em que o campeonato de pilotos era vencido por
aquele que tinha talento, velocidade, regularidade, sabia poupar motor e
equipamentos mecânicos porque quebravam, a única coisa que não dava problema
era o tal do “componente” elétrico, que não existia. Isto é coisa deste tempo
em que o carro pode ser dirigido do boxe.
Acho que o último campeonato de pilotos que pode ter esse
nome de forma honesta foi o de 1983, vencido por Piquet, sem que a Brabham
fosse o melhor carro. O Renault era melhor.
De 1984 para cá venceu o melhor piloto que estivesse dirigindo o melhor
carro, ou o piloto favorecido pela equipe, a exceção dos campeonatos de 1986,
aonde Prost se aproveitou do fato do Piquet não ser um Barrichello ou Massa da
vida que se contentasse em ser o segundo piloto, e do próprio Piquet em 1987
que com o melhor carro derrotou o favorito de sua equipe, o Mansell. De lá para
cá a previsibilidade tornou a F-1 enfadonha, até mesmo nas participações
vergonhosas de brasileiros em obedecer a ordens de equipe como as “deixe o
Schumacher passar ou vamos matar o cachorrinho de sua vozinha” (é o que resta acreditar
que foi dito, após as inúmeras e contraditórias declarações do Rubinho) ou “Fernando
is faster than you”.
Porém, este ano a Pirelli mudou o jogo. Não sei se de forma
proposital a pedido dos dirigentes da F-1 ou por pura incompetência em fabricar
um pneu competitivo. O pior é que parece não haver uniformidade nos pneus
oferecidos, pois os de mesma categoria, macios ou duros, que “vestem” o mesmo
carro do mesmo piloto se comportam de forma diferente. Se fosse uma simples
questão dos pneus serem todos regularmente feitos para se degastarem rápido,
aqueles pilotos de “tocada” suave estariam sendo beneficiados. E como o piloto
de tocada mais suave é reconhecidamente o Button, deveria ser ele a estar
liderando o campeonato, mas quem está é o Alonso, conhecido por seu talento,
por ser beneficiado em alguns escândalos envolvendo a F-1 e pela imensa sorte
que o acompanha. E sorte aqui é a palavra. Ele pode não pegar os pneus menos
ruins, mas não pega os piores.
A diferença está mesmo nos pneus. Na irregularidade dos
mesmos. Depois de 1984, fora condições climáticas e acidentes, não se vê com a frequência
que ocorre este ano, carros que andam bem atrás em uma corrida, melhorarem no
espaço de uma corrida chegando até mesmo a liderarem e vencerem a próxima
corrida. Assim, este ano, já vimos McLaren, Ferrari, Red Bull, Sauber, Lotus e
Willians disputando pódios. Vimos cinco
pilotos vencedores em cinco corridas. A última vez que aconteceu isso? 1983. O
último ano de um verdadeiro campeonato de pilotos. Os carros deixaram de ser
importantes e os pilotos voltaram a ser? Não. Os pneus agora são os mais
importantes.
O campeonato de formula 1 de 2012 definitivamente se tornou um campeonato de sorte. E como a
sorte pode ir para qualquer um, não se vê reclamações veementes contra a
Pirelli.
E já que é sorte, para a próxima corrida vou apostar no
número 13. Ops! Esqueci-me que não existe esse número na supersticiosa F-1. Vou
apostar então no número do último campeão para o qual torci. O número 6 de
Piquet em 87. Ops! Está com o Massa, esse não ganha nem se estiver com sorte, a
Ferrari o manda deixar o Alonso passar. Como a F-1 virou uma corrida maluca,
vou apostar na “baratinha” de número 9 do Peter Perfeito. Beleza. Está com o
Kimi, o último dos moicanos, um piloto extemporâneo. O único entre os pilotos
da atualidade que seria digno, pelo comportamento, de dividir o espaço com os
heróis (estes sim, homens de coragem do tamanho da audácia) dos anos 50 até aos
da primeira metade dos anos 80. De lá para cá, a categoria de piloto de F-1 foi
dominada por garotos mimados. Quando vejo uma entrevista dos pilotos atuais observo o esforço em vestirem a máscara do “Peter Perfeito”. O único que foge a
regra é justamente o Kimi, herdeiro do número. Mais uma ironia nesta F-1 dos
dias de hoje.
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