sábado, 16 de julho de 2016

Tempo, tempo, tempo, tempo.


Estar fora, estar dentro.
Estar dentro ainda que observe como se estivesse de fora.
E assim vou fazendo minhas opções.
Sempre tive um mundo em que pudesse me isolar e então reforçar uma armadura que me protegia de interferências externas, ainda assim não me neguei a experimentar a vida. Experimentar é a palavra-chave, mas como todo gato escaldado, entrar em águas após se queimar pode demandar algum tempo, que pode ser medido em horas, dias, semanas, meses, anos, décadas e até mesmo vidas na forma de reencarnações.
Sempre fui um homem analógico, portanto, me permitir ser invadido por um mundo digital exigiu etapas.
A primeira, a Internet. Para isso usei um pseudônimo utilizado para escrever panfletos contra a ditadura militar, pseudônimo que virou nome artístico e hoje nome próprio, de alter-ego ou alto-ego, tanto faz. Depois o Twitter, depois este Blog, onde estou e permaneço já tem alguns anos. Também tinha o Facebook, mas nunca abria a não ser quando me pediam para fazê-lo.
Este ano tomei novos passos. Entrei no WhatsApp, ao qual cheguei a pensar que jamais usaria, tinha telefone para quê?
Também passei a publicar na linha do tempo do Facebook e até abri um Instagram. Mas ainda uso pouco, nem sei se vou continuar. Estou apenas EXPERIMENTANDO.
E o que isso tem a ver com o “Tempo, tempo, tempo, tempo” do título acima?
Compositor de destinos,
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo”
Pois bem, ao entrar no WhatsApp, recentemente fui convidado por uma amiga, colega da turma de medicina, para fazer parte do grupo de formandos em medicina. Neste grupo pude ir revendo, via WhatsApp, colegas que há muito não encontrava. Com alguns colegas deste grupo eu me encontrava em corredores de Hospital, na Universidade ou pelo meu bairro, aonde alguns ainda moram. Mas mantive contato com muito poucos levando em consideração que nossa turma teve 135 alunos.
Hoje teve um encontro com parte desta turma. Publicaram fotos, e assim pude rever rostos conhecidos (alguns com certa dificuldade) e como o Senhor Tempo, o “um dos Deuses mais lindos”, foi generoso com alguns(mas), e a ainda mais generoso com outros(as).
“Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo”
Reconheci sem dificuldade (pela generosidade do Deus Tempo), o rosto de M., a amiga que me colocou no grupo do Whats e de quem guardo a doce memória dos jambos que ela sempre me levava após os períodos de férias. Seu sorriso mágico intacto, mesmo sabendo que o Deus Tempo atuou em sua alma, como em todos nós.
Com mais facilidade ainda, reconheci I.C., mas porque a encontrei algumas vezes nestes anos e principalmente porque ela me concedeu a enorme honra de participar da banca de minha tese em autismo que defendi ano passado.
E mais fotos foram publicadas, algumas “Vintage” e então o paradoxo me atingiu, em cheio.
De um lado, rostos atuais, felizes pelo momento, mas certamente marcados pela enorme responsabilidade que a profissão escolhida trouxe aos meus colegas, talvez a maior responsabilidade entre todas as profissões, a responsabilidade sobre vidas humanas.
“De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo”
Por outro lado, as fotos “Vintage”, entre elas a escolhida nesta postagem, e escolhida porque era a mais desfocada, como se os 30 anos fossem bem mais, porque às vezes, assim me parece. Nestas fotos “Vintage” encontro uma pureza nos olhares e nos sorrisos que não encontro nas fotos atuais, talvez porque machucados pelas experiências que o “Deus Tempo” lançou sobre nós, sobre nossa ingenuidade, nossa esperança, nossas certezas.
E diante deste choque entre os contrastes um pensamento me chegou: Como seria bom que a vida nos trouxesse a experiência e ainda assim nos mantivesse no modo Vintage, ingênuos, esperançosos, EXPERIMENTADORES e com apenas uma exceção, cheios de dúvidas porque as certezas são as únicas coisas que perdemos e que a perda nos favorece.
“Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo”

OBS: “Oração ao Tempo”, citado no texto é uma composição de Caetano Veloso.

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